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O Povo nas Ruas e os Espertos nos Bastidores
Luiz Carlos Marques é sociólogo e ex-vereador
Por Administrador
Publicado em 22/09/2025 11:03 • Atualizado 22/09/2025 11:05
Cidades

Neste domingo, 21 de setembro, o que se viu em todas as capitais do país — e em muitas outras cidades — foi algo que há tempos parecia adormecido: o povo nas ruas. E não foi por qualquer coisa. A famigerada PEC da Blindagem, verdadeiro monumento à impunidade, conseguiu o que muitos julgavam impossível: reacender a chama da indignação popular.

 

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Durante anos, as mazelas cometidas pelo centrão e sua ala extremista foram sendo normalizadas. Um escândalo aqui, um jabuti ali, e o povo, cansado, acuado, calado. Mas desta vez parece que passaram do ponto. Ao tentar mutilar o Código Penal em benefício próprio, nossos nobres parlamentares acabaram cutucando a onça com vara curta. Foi preciso chegar ao cúmulo do absurdo para que muitos despertassem para a realidade política deste país.

E o que se viu nas ruas foi revelador: velhos, jovens, famílias inteiras. Um número expressivo de jovens, aliás, parece finalmente ter entendido que o futuro não se constrói apenas com memes e hashtags. Resolveram lutar. Resolveram sair do Wi-Fi para enfrentar o Wi-do poder.

Se a PEC da Blindagem serviu para alguma coisa, foi para acordar o país de seu torpor cívico. Mas é preciso ter cuidado: quando o povo se mexe, as velhas raposas saem das tocas com planos ainda mais ardilosos. Não por acaso, ressurgem figuras como Michel Temer, Paulinho da Força e Aécio Neves — os eternos vendedores de conciliação com sabor de retrocesso. A velha fórmula é conhecida: um pacto nacional "com tudo", onde o único objetivo é empurrar o lixo para debaixo do tapete... mais uma vez.

E claro, o discurso vem embalado na linguagem da paz, da moderação, da "pacificação nacional". Em tradução direta: garantias para os de cima, sacrifícios para os de baixo. Ou como diria George Orwell, com precisão cirúrgica:

> “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.”

Diminuir as penas dos criminosos por tentativa de golpe — ou melhor, blindá-los por lei — é, na prática, oferecer salvo-conduto para o próximo golpe. E ele virá. A história nos mostra que o golpismo nunca morre; apenas cochila.

A mobilização de domingo foi um passo. Um passo importante, sim, mas ainda modesto. O jogo não está ganho. É preciso dar um salto qualitativo. Já não basta repetir o óbvio — que temos o Congresso mais medíocre da história. A superação desse cenário exige mais que lamentos: exige ação, unidade, estratégia.

A classe trabalhadora precisa mover montanhas — ou, no mínimo, urnas — para colocar no Congresso representantes verdadeiramente comprometidos com o interesse público. Se isso não acontecer, o 21 de setembro será lembrado apenas como um dia bonito de protesto, e nada mais.

No fim e ao cabo, a luta de verdade ainda está começando. E para que ela tenha alguma chance de vitória, a união dos setores progressistas não é apenas desejável: é urgente e inadiável.

As pessoas nas ruas são o primeiro sinal de que, bem jogado, este jogo pode mudar. Mas cuidado: os donos do tabuleiro continuam ali — sorrindo, distribuindo cargos e mexendo suas peças. E eles não gostam de perder.

Este artigo nao reflete necessariamente a opinião do portal.

 

 

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